sexta-feira, 23 de julho de 2010

21/07/2010 – Nossos espetáculos eram coadjuvantes









Dionízio do Apodi

É final de projeto! Um misto de satisfação e saudade se apodera de mim. Foi ótimo finalizar em Sapé (Paraíba), com A Peleja do Amor no Coração de Severino de ´Sapé´ (assim fizemos, porque a cidade merece). Sapé nos mostrou como uma cidade se mobiliza por completo em prol de um espetáculo de teatro. Foi lindo! Lindo mesmo! Indescritível! Inenarrável! Só estando lá para ver.
A começar pela parceria que fizemos com a Prefeitura Municipal de Sapé, que nos deu mostras de respeito ao nosso trabalho. Acredito que todas as secretarias estavam dispostas a ajudar no que fosse preciso. O coordenador de cultura, Josas, foi brilhante. O prefeito da cidade é jovem, e acho que é por isso que é diferente estar ali. Lembrei mais uma vez da minha terra Apodi. Passamos três meses por lá, fazendo um trabalho, que duvido saia da cabeça das pessoas, e não tivemos em um só momento um representante do poder público para ver o que estava acontecendo. Infelizmente Apodi ainda vai demorar muito a sair deste ostracismo cultural.
Hoje pela manhã Josas nos levou ao Memorial Augusto dos Anjos, onde fomos muito bem recebidos pela simpática coordenadora Nadja, e pelo não menos simpático e bravo, Paulinho da Usina. Tivemos uma aula sobre Augusto dos Anjos. Deu uma enorme vontade de vivê-lo, fazer algo sobre ele, um espetáculo, com meu mestre João Marcelino dirigindo (sonho o tempo inteiro com este encontro – como uma noiva espera o seu casamento). Palavras ecoaram forte no meu coração, e acredito que no momento certo retornaremos a Sapé (e também no momento certo encontrarei João Marcelino).
Visitamos também o tamarindo onde Augusto dos Anjos, por muitas vezes escrevia seus versos, pensava na vida, e chorava. Me emocionei. Mas afastei-me para que ninguém me surpreendesse daquela forma. O momento era meu, sozinho. Digo isso pelo meu estado de espírito, pelas minhas buscas individuais, meus sonhos, que há algum tempo tenho pensado muito.
Ah, não posso esquecer de mencionar Cássio, valente, desastrado e doce cavalheiro tosco, mossoroense da Baixinha, de onde temos a nossa sede, que nos acompanhou durante todo o projeto, ajudando no que fosse preciso. Saimos do Memorial Augusto dos Anjos e fomos para a casa que possivelmente tenha sido a de Augusto dos Anjos. Nadja nos explicava que a casa era tombada, quando de repente Cássio se mete, com sua voz delicada que faz surdo ouvir, e diz apontando para uns tijolos caídos no chão, “tombou aqui, foi?”
A tarde se mostrou maravilhosa, e assim montamos toda a estrutura para o espetáculo, mais uma vez, na Praça João pessoa. Fomos para o hotel, e ao retornar, já preparados, dentro da van, ao se aproximar da praça, as primeiras palavras nossas ao avistar a multidão eram: meu Deus! Quanta gente! Vixe!
Ao chegarmos, ficamos atrás do cenário, nas nossas coxias, e ouvimos a banda de música municipal tocando. Em seguida Zelito Coringa cantou, e ainda convidou uma poetisa sapeense para dizer uns versos para a plateia. Ao final do show de Zelito, que foi bastante aplaudido, Zelito pediu licença ao povo de Sapé para cantar uma música que seria dedicada para Dionízio do Apodi, diretor d´O Pessoal do Tarará. “Dionízio essa é para você”. E cantou: “Apodi, Apodi, terra dos meus ancestrais
Apodi, Apodi, com suas belezas naturais...”
No refrão da canção, Zelito ensinou o povo a cantar “Tarará, tarara, Tarará, tarara...”
Aí foi muito para o meu pobre coração. Muito obrigado Zelito, grande parceiro, amigo. Obrigado por tudo. Valeu mesmo. Noite brilhante!
Nunca tivemos tanta gente próxima ao palco d´A Peleja, nas laterais, e até assistindo o que acontecia na nossa coxia. Emoção indescritível! O show foi de Sapé, e nosso espetáculo um aguerrido coadjuvante.

“No tempo de meu pai, sob estes galhos,
Como uma vela fúnebre de cera,
Chorei bilhões de vezes com a canseira
De inexorabilíssimos trabalhos!

Hoje, esta árvore, de amplos agasalhos,
Guarda, como uma caixa derradeira,
O passado da flora brasileira
E a paleontologia dos carvalhos!

Quando pararem todos os relógios
De minha vida, e a voz dos necrológios
Gritar nos noticiários que eu morri,

Voltando à pátria da homogeneidade,
Abraçada com a própria eternidade
A minha sombra há de ficar aqui.”
(Debaixo do Tamarindo – Augusto dos Anjos)


Família Rodovia Nordeste de Teatro: Alex Peteka, Amelie, Antônio Marcos, Camila Paula, Cássio Zuada, Deassis das Cantiga, Deyse Negreiros, Diego Ventura, Dionízio do Apodi, Jamille Ruana, Joelson Lost, Ludmila Albuquerque, Madson Ney, Maxson Ariton, Rosi Reis, Wellington Banana e Zelito Coringa.

Um comentário:

  1. Preciso falar de minha grande satisfação, quando por acaso me deparei com este Blog. Mais feliz fiquei quando li sua postagem a respeito de minha cidade e de nós sapeenses. O Grupo é sensacional e temos que valorizar quem faz arte, principalmente desta forma, aproximando o teatro do povo. Vocês são excepcionais, a versatilidade é impressionante, e até hoje as pessoas lembram os bordões repetidos nos epetáculos. Foi realmente marcante!
    E só temos a agradecer os elogios ofertados a nossa cidade e agradecer por nos proporcionar a alegria de assisti-los.
    Lúcia Cruz
    Secretária Adjunta de Administração
    Sapé - PB

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